segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Após catapora, adolescente vive com doença rara e aguarda transplante

A maioria das crianças já deve ter contraído aquela doença de pintinhas avermelhadas, conhecida popularmente como catapora. Essa doença é muito popular entre os pequenos, principalmente antes dos seis anos, e alguns deles devem ter ficado com uma manchinha ou cicatriz, que vai se manter por toda a vida.
Um simples sinal de catapora não deve incomodar, dependendo do tamanho. Mas a adolescente Vitória Barbosa, moradora de Panorama, hoje com 14 anos, tem uma marca que está prestes a desaparecer. Ela tem uma doença rara, chamada de bronquiolite obliterante, que adquiriu após a catapora ter se desenvolvido, primeiramente, em seus pulmões.
A dona de casa Andreia Barbosa, mãe de Vitória, conta que aos sete anos sua filha teve catapora e aconteceu algo fora do normal. “Ela teve febre muito alta, emagreceu 12 kg e começou a sentir falta de ar”, diz. Com todos esses sintomas contrários da doença, na época, ela foi levada para Dracena e consultada por três médicos que deram o diagnóstico de bronquite asmática. Com esse laudo, a menina fez tratamento para a doença durante três anos, mas não havia sinais de melhora.
Com a mãe, Andreia, Vitória vai se mudar para Mairiporã (SP) (Foto: Arquivo Pessoal/Cedida)Vitória vai se mudar com a mãe, Andreia, para
Mairiporã (SP) (Foto: Arquivo Pessoal/Cedida)
Aos 10 anos, Vitória já não conseguia fazer sozinha as coisas simples do dia a dia, como, por exemplo, escovar os cabelos e amarrar o tênis. No entanto, o mais complicado, ela não conseguia andar. “Para chegar à calçada, precisava de ajuda”, conta a mãe.
Segundo Andreia, uma amiga foi visitar sua filha e viu que aquela situação não era normal e marcou uma consulta em Dracena. “Lá ela passou por uma tomografia e os médicos descobriram que tinha algo estranho. Foi quando a transferiram para o HR [Hospital Regional], em Presidente Prudente”, relata a mãe. Após a chegada ao hospital, em 2011, Vitória ficou internada quase um mês para os médicos descobrirem o que estava acontecendo.
Depois desse período, foi detectada a bronquiolite obliterante pós-infecciosa, causada por catapora. O médico Osvaldo Saraiva, especialista há quatro anos em pneumologia, foi quem descobriu o que Vitória tinha e, a partir daí, a vida da garota passou a ter uma rotina diferente.
A doença
Segundo o especialista, a patologia é rara e adquirida por infecção através de vírus ou bactéria que causa inflamação dos pulmões e dos brônquios. Isso gera uma lesão pela vida toda. “Em alguns casos, é possível regredir com medicamentos que fazem desinflamar e esse processo pode acontecer depois de um ano”, salienta.
O pneumologista Osvaldo Saraiva descobriu que Vitória tinha a doença (Foto: Arquivo Pessoal/Cedida)O pneumologista Osvaldo Saraiva descobriu que
Vitória tinha a doença (Foto: Arquivo Pessoal/Cedida)
Saraiva explica que, quando o tratamento clínico não apresenta solução, é indicado o transplante de pulmão, algo mais inusitado ainda. “Como é o caso da Vitória”, completa.
A garota é tratada, também, no Instituto do Coração (Incor), em São Paulo, e aguarda ansiosa pelos seus novos pulmões. De acordo com sua mãe, para entrar na fila é preciso ter o peso mínimo de 40 kg e ela já conseguiu. No próximo dia 7 de novembro, Andreia e a filha irão se mudar para a cidade de Mairiporã (SP), onde ficarão na casa de familiares de uma amiga. Lá, mãe e filha vão aguardar até aparecer um doador e essa espera chega a ser de dois a três anos. A Prefeitura de Panorama, segundo Andreia, disponibilizará uma vez por mês a dieta alimentar recomendada para Vitória.
Quando encontrar pulmões compatíveis com os seus, será preciso acionar o helicóptero Águia, da Polícia Militar, para levar Vitória até o Incor, pois o órgão tem o tempo máximo de duas horas para ser transplantado e Mairiporã fica a 44 km de São Paulo (SP). Já o período pós-operatório, leva cerca de três anos.
Com a sonda, a adolescente conseguiu ganhar peso (Foto: Arquivo Pessoal/Cedida)Com a sonda, a adolescente conseguiu ganhar
peso (Foto: Arquivo Pessoal/Cedida)
Os sintomas
Segundo o pneumologista, a pessoa vai sentir chiado constante no peito, falta de ar e baixa oxigenação, além de emagrecimento após a infecção, e não conseguirá andar. Contudo, ela fica limitada a esforços simples, como escovar os dentes, e não aguenta se manter sentada por muito tempo.
O médico ainda fala que, “se o paciente tiver uma infecção e, após três semanas do início dos sintomas, não sentir melhora, é possível que tenha evoluído para a bronquiolite obliterante”.
Saraiva alerta que essa patologia pode ser confundida com a asma e a fibrose cística, doença genética que atinge o pulmão.
O dia a dia
Desde quando a enfermidade foi descoberta, Vitória não vai à escola. “Ela parou de ir quando estava no quarto ano. Mas, hoje, ela tem atestado e está no primeiro colegial”, afirma a sua mãe. Andreia conta que ensina a filha em casa e uma amiga também a ajuda. No fim do ano, ela faz uma prova com todo o conteúdo que aprendeu e assim passa para o ano seguinte. “O psicológico dela não é afetado pela doença”, salienta.
Vitória não conseguia fazer sozinha coisas simples do cotidiano (Foto: Arquivo Pessoal/Cedida)Vitória não conseguia fazer sozinha coisas simples
do cotidiano (Foto: Arquivo Pessoal/Cedida)
No começo do ano, nos meses de janeiro e fevereiro, sua mãe fala que ela teve uma broncopneumonia muito forte e também um princípio de anorexia grave. Com isso, no mês seguinte, Vitória passou por uma cirurgia para colocar uma sonda gástrica (introduzida no estômago), para poder comer. Além de colocar um cateter de oxigênio no nariz. Depois da operação, ela ficou internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do HR, em Presidente Prudente, por 17 dias.
Com a sonda, ela conseguiu ganhar peso.
Prevenção
Essa enfermidade atinge mais as crianças com idades entre dois e cinco anos, principalmente no inverno, onde o período de catapora é mais comum. Saraiva alerta que é preciso evitar que os pequenos contraiam algum tipo de infecção e, para isso, são necessárias as seguintes medidas:
- manter o aleitamento até os dois anos de idade e pode ser alternado com a mamadeira;
- sustentar a caderneta de vacinação em dia;
- evitar locais que tenham aglomeração de pessoas até os seis meses de vida;
- adotar práticas alimentares saudáveis.
O médico atenta que, quanto mais velha a pessoa for e adquirir a catapora, mais vulnerável será para contrair a bronquiolite obliterante, o que, de acordo com ele, é ainda mais raro.

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